19 out Quociente espiritual
Como você vem se alimentando espiritualmente, relacionando-se com as pessoas e fazendo negócios? E o que uma coisa tem a ver com a outra?
No livro QS: inteligência espiritual, os filósofos Danah Zohar e Ian Marshall, baseados em estudos sobre a consciência, defendem a ideia de que o ser humano tem uma dimensão espiritual ligada à necessidade humana de ter e concluir objetivos, e que, além do QI (quociente intelectual) e do QE (quociente emocional), a inteligência humana também pode ser medida por meio da inteligência espiritual – QS.
O quociente intelectual, ou quociente de inteligência, é um fator que mede a inteligência das pessoas com base nos resultados de testes específicos. Abrange o desempenho cognitivo de um indivíduo comparando a pessoas do mesmo grupo etário. O quociente emocional refere-se ao nosso propósito e objetivos de vida, consequentemente ao significado de nossa existência, ao desenvolvimento dos valores éticos e a crenças que pautam nossas ações.
De acordo com os filósofos, o QE é o tipo de inteligência mais importante. Os computadores teriam um elevado quociente intelectual; os animais, um grande quociente emocional, mas somente o homem teria oquociente espiritual.
A diferença entre eles é o poder transformador. A inteligência emocional nos propicia julgarmos em que situação nos encontramos e comportar-nos apropriadamente dentro dos limites da situação. Já a inteligência espiritual nos permite perguntar se queremos estar nessa situação particular, o que implica trabalhar com os limites da situação.
O que é inteligência espiritual?
O termo espírito está ligado à definição de espiritual, que significa holístico, pleno, a base do ser. Tem uma conotação antiga.
O Ph.D. em física quântica, Amit Goswami – conferencista, pesquisador e professor emérito do departamento de Física da Universidade de Oregon, EUA, que leciona regularmente no Ernest Holmes Institute e na Philosophical Research University, em Los Angeles – é referência mundial em estudos que buscam conciliar ciência e espiritualidade. Autor de inúmeros artigos científicos publicados em revistas de medicina, economia e psicologia, Goswami diz que prefere usar o termo “inteligência supramental”, em vez de espiritual, porque significa a inteligência além do mental. O termo tem a ver com nossos valores, virtudes e com os arquétipos que definem verdade, beleza, amor, justiça e bondade. É uma inteligência mais ligada à intuição do que à razão.
Em entrevista dada à revista Época Negócios, Goswami explica que “a consciência é a base da existência. Ao dar valor primordial à consciência, podemos apreender todas as suas qualidades, não só as experiências materiais e sensoriais, mas também o que sentimos e intuímos. Essa intuição é um fenômeno que se explica pelo conceito de não localidade, uma comunicação na qual não há troca de sinais, explicada pela física quântica. É um fenômeno em que moléculas, elétrons e pessoas se comunicam mesmo a longas distâncias. Isso é a evolução de nosso conceito de inteligência, porque previamente o argumento era que inteligência era a maneira como usamos nosso computador cerebral. Lógico que existe um componente em seu DNA que explica como você usa seu cérebro, mas inteligência também é criatividade – é como você vai além da mente, além do conhecido. Precisamos integrar a intuição e a criatividade a nossa razão”.
Quociente emocional
Nos anos 90, o psicólogo e teórico do quociente emocional Daniel Goleman criou a expressão “inteligência emocional” para descrever a necessidade de desenvolver o autoconhecimento e a empatia. Mais recentemente, cientistas encontraram evidências de que o cérebro humano foi programado biologicamente para fazer perguntas filosóficas e subjetivas, como “Quem sou eu?” ou “O que torna a vida digna de ser vivida?”.
Quociente emocional x quociente espiritual
Daniel Goleman fala das emoções. Inteligência espiritual fala da alma. O quociente espiritual tem a ver com o que algo significa para nós, não apenas como as coisas afetam nossas emoções e como reagimos às situações.
A espiritualidade sempre esteve presente na história da humanidade. O tema espiritual não é nada novo, mas a abordagem mudou, embora continue polêmico. De um tempo para cá, entrou no radar dos cientistas, que têm tentado entender a existência dessa inteligência e explicá-la de uma forma mais “racional”, se é que isso é possível. As pesquisas sobre quociente espiritual (QS) ainda são pouco divulgadas, mas já foram capa das revistas americanas Neewsweek e Fortune.
Nem só razão, nem só emoção
O indiano Amit Goswami diz que a base da criatividade é a inteligência que se baseia nas percepções sutis e na intuição. Em entrevista à Época Negócios, Goswami, que já foi ateu e hoje estuda ciência e espiritualidade, disse que “ao dar valor à consciência, apreendemos não só as experiências materiais e sensoriais, mas também o que sentimos e intuímos”.
Goswami costuma dizer que todos nós temos dois lados. Um é o lado Isaac Newton – aquele que quer entender tudo em termos objetivos, matemáticos. Outro é o que ele chama, numa referência ao poeta inglês, de William Blake – mais sutil, que vê o mundo a partir de uma percepção intuitiva. Para ele, é na confluência desses dois lados que está a raiz da criatividade.
“Quase 100 anos de pesquisas sobre criatividade mostram que os cientistas também dependem da intuição. Nem tudo é racional, matemático”, escreveu em O UniversoAutoconsciente: como a consciência cria o mundo material, publicado no Brasil pela Editora Aleph. O autor contesta radicalmente o realismo materialista e desconstrói a convicção de que a matéria é o principal elemento formador da criação. Afirma que o verdadeiro fundamento de tudo que conhecemos e percebemos é a consciência, e tudo o que existe e se move no cosmo é gerado pela consciência. Propõe um desafio, uma ponte sobre o gigantesco abismo entre ciência e espiritualidade, construindo um novo paradigma científico: “o universo não existe sem algo que lhe perceba a existência”.
Goswami domina a matéria com mestria. O Ph.D. em física nuclear despertou para uma outra maneira de ver a vida, ao perceber que era impossível realizar medições quânticas usando somente a inteligência racional e que a visão dos espiritualistas sobre o mundo era a mais acertada para entender a física quântica. Começou, então, a estudar as relações entre razão e intuição. Hoje, professor emérito no Instituto de Física da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, é um físico respeitado e especialista nessa nova ciência – do estudo da consciência dentro da ciência – que permite integrar o lado objetivo ao lado sutil: a inteligência espiritual.
Como as pesquisas vêm confirmando a ideia desta terceira inteligência
Os cientistas descobriram que temos um “ponto de Deus” no cérebro, uma área nos lobos temporais que nos faz buscar um significado e valores para nossas vidas. “É uma área ligada à experiência espiritual. Tudo que influência a inteligência passa pelo cérebro e seus prolongamentos neurais. Um tipo de organização neural permite ao homem realizar um pensamento racional, lógico. Dá a ele seu QI, ou inteligência intelectual. Outro tipo permite realizar o pensamento associativo, afetado por hábitos, reconhecedor de padrões, emotivo. É o responsável pelo QE, ou inteligência emocional. Um terceiro tipo permite o pensamento criativo, capaz de insights, formulador e revogador de regras. É o pensamento com que se formulam e se transformam os tipos anteriores de pensamento. Esse tipo dá o QS, ou inteligência espiritual”, explicam Zohar e Marshall, no livro.
O estudo e a aceitação dessa realidade podem nos ajudar a enxergar mais longe, ser mais criativos, centrados e encontrar um ou mais significados para a vida além das conquistas materiais. Pode mudar a forma como vemos o mundo, nos relacionamos com as pessoas e fazemos negócios.
Dez qualidades comuns às pessoas espiritualmente inteligentes
(segundo Danah Zohar e Ian Marshall)
- Praticam e estimulam o autoconhecimento profundo.
- São levadas por valores, idealistas.
- Têm capacidade de encarar e utilizar a adversidade.
- São holísticas.
- Celebram a diversidade.
- Têm independência.
- Perguntam sempre “por quê?”.
- Têm capacidade de colocar as coisas num contexto mais amplo.
- Têm espontaneidade.
- Têm compaixão.
Todos os itens são importantes, mas, na minha opinião, o décimo é o mais significativo. A compaixão é um sentimento típico dos seres humanos que se caracteriza por piedade e empatia com o sofrimento alheio. Desperta fortemente a vontade de ajudar o próximo a superar seus problemas. Ela nos impele a ouvir, consolar e dar suporte emocional, o famoso “colinho”.
Finalizo com a pergunta da abertura deste artigo: Como você vem se alimentando espiritualmente, relacionando-se com as pessoas e fazendo negócios?
Sobre a autora:
Catarina Pierangeli – Jornalista apaixonada pela comunicação ajudando empresas e profissionais a conquistar reputação online e visibilidade. Pós-graduada em Gestão da Comunicação em Mídias Digitais com mais de 28 anos de experiência em Comunicação Corporativa. Atualmente atua como diretora executiva na Pierangeli Comunicação, é consultora, mentora, professora, palestrante, ghost writer. Linkedin heavy user e colunista regular do Pulse. Pesquisadora atuante da Comunicação Multiplataforma e produtora profissional de conteúdo para diversas empresas , profissionais e canais.
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