22 fev Marketing digital será o voto de Minerva das eleições 2016
Foi assim na Grécia Antiga onde a deusa Pala Atena (correspondente à deusa romana Minerva) decidiu uma eleição.
Entrevista: Edson Higo do Prado
Por: Catarina Pierangeli *
Há 10 anos, o The New York Times publicou uma reportagem sobre a revolução no marketing político mundial causada pela internet. Em 2010, o consultor Gaudêncio Torquato, especialista em marketing político, afirmou que as redes sociais poderiam mudar a cultura de participação dos brasileiros no processo político. E ele estava certo!
Pela grande rede já foram articuladas verdadeiras revoltas populares. Vou dar alguns exemplos clássicos: lembram-se da deposição do presidente egípcio Hosni Mubarak e do regime de quase meio século de Muamar Kadafi, na Líbia – a “Primavera Árabe”? Pois bem!
No Brasil foram organizadas passeatas e manifestações que levaram milhares de brasileiros às ruas, em 2013, com o Movimento Passe Livre. Nas eleições de 2014 houve a incorporação definitiva das mídias sociais na campanha eleitoral e até mesmo troca de ofensas na rede.
De lá pra cá, o eleitor brasileiro tem se mostrando mais conectado isso é fato. Sua participação ativa nas redes sociais está mudando o modo como se faz política no país. É na rede, sem rodeios, que ele quer ver quem é quem de verdade, sem máscaras!
Sabendo disso, os partidos políticos apostam alto nas mídias digitais com equipes treinadas para encantar e conquistar a máxima atenção dos eleitores.
Bem, outubro está aí e a novidade é que com a reforma política as verbas para as campanhas estão bem curtas. Também ficou proibido o financiamento empresarial de campanhas e da publicidade paga na internet dentro do período eleitoral. A boa é que os candidatos foram liberados para se posicionarem antes do período eleitoral. E é aí que gente entra!
As redes sociais podem e vão influenciar o processo eleitoral
Mas quem conta como os candidatos poderão usar as mídias digitais a seu favor e desvenda os mitos que envolvem a profissão é o jornalista e especialista em marketing político Edson Higo do Prado.
1. Existe muitos mitos em torno do trabalho de marketing político. Algumas pessoas tem uma ideia deturpada fruto do despreparo de alguns profissionais e da falta de ética de outros. Que direcionamento você pode dar para os profissionais que pretendem abraçar a carreira com seriedade?
Atualmente, o Marketing Político ganhou uma projeção contraditória. É como você colocou na pergunta, uma questão que resvala a ética e o respeito. Os profissionais da área, no entanto, estão trabalhando para mostrar que cuidam da boa conduta e dos bons procedimentos no dia a dia. Essa deve ser a linha a ser seguida por profissionais de todas as áreas. Se você não concorda com determinados procedimentos, por que vai prestar serviços para quem age de forma suspeita?
Isso depende da cada um. Felizmente, os desvios são exceção. Todos sabemosquem decide o rumo de uma campanha é o candidato. Mas o consultor de Marketing Político deve mostrar claramente os resultados de uma decisão. E, em último caso, pode deixar de prestar serviço para aquele candidato com o qual não comunga princípios de comportamento.
2. O marketing político alçou voos altos depois do boom digital. Você poderia citar um case?
Na cronologia do Marketing Político no Brasil, existem algumas fases. Houve a fase pré-TV, a fase da TV e agora ganha força a fase do conteúdo digital. É preciso entender o cenário como um todo.
Existe a estratégia geral de pré-campanha e campanha. É um grande guarda-chuva que cobre vários setores, como impressos, rádio, TV, reuniões e inclui a área digital.
As ações táticas de marketing político digital ganharam impulso porque a Justiça Eleitoral acabou disciplinando o uso da Internet no período que antecede a campanha há alguns anos. A partir daí os pré-candidatos passaram a utilizar a Internet nesses meses com mais segurança. E agora, com as mudanças nas regras da eleição, o tempo de campanha foi reduzido para 45 dias e o de propaganda eleitoral gratuita caiu para apenas 35 dias. Com isso, os pré-candidatos precisam aproveitar a oportunidade do período que antecede o início da campanha oficial. E, nesse ponto, a Internet oferece ótimas ferramentas.
Desde 2008, com a primeira campanha de Obama, o marketing digital 2.0 mostrou sua força ao utilizar os recursos digitais no esforço de campanha política vitoriosa. É preciso tomar cuidado com a chamada “guerrilha viral”. Hoje existem recursos de investigação que localizam facilmente as fontes de ataques clandestinos na Internet. A Polícia Federal tem expertise nesse campo.
3. Como o coaching pode favorecer um candidato em campanha?
O Coaching é um excelente procedimento de desenvolvimento tanto profissional como pessoal. O Coaching Executivo é excelente para os candidatos e chefias de campanha. Eu sempre apliquei as técnicas do Coaching nas campanhas que comandei. Mesmo quando esse trabalho não estava explicitado. O importante é usar técnicas e ferramentas para melhorar a integração e o trabalho da equipe. E para isso o Coaching em grupoajuda muito. Afinal, você monta uma empresa pequena ou média por apenas dois ou três meses e tudo tem que funcionar como um relógio. Outro forte aliado é a PNL – Programação Neolinguística.
4. O que a legislação eleitoral permite fazer antes da campanha oficial?
Muito pode ser feito nas Redes Sociais. O TSE regulamentou o uso da internet na eleição desde 2010. Com isso esclareceu alguns pontos nebulosos sobre o que pode ser feito antes de começar a campanha propriamente dita. Na verdade, o pré-candidato pode fazer muito, desde que não peça votos. A estratégia da pré-campanha será muito importante para resolver desafios, potencializar pontos fortes e reforçar a imagem que se quer para a campanha eleitoral. A recomendação é não perder tempo e aproveitar todas as oportunidades.
Nota do editor:
Conforme dispõe o art. 57-A da Lei n. 9.504/1997 (Lei das Eleições), é permitida a propaganda eleitoral na internet após o dia 5 de julho do ano da eleição, a qual poderá ser realizada, entre outras formas, “por meio de blogs, redes sociais, sítios de mensagens instantâneas e assemelhados, cujo conteúdo seja gerado ou editado por candidatos, partidos ou coligações ou de iniciativa de qualquer pessoa natural” (inciso IV do mesmo artigo). Ressalte-se que tal dispositivo foi acrescentado à Lei das Eleições por meio da Lei n. 12.034/2009.
5. Você pode resumir os objetivos da pré-campanha?
Com a campanha mais curta e os programas gratuitos da eleição com menor tempo, será preciso aproveitar ao máximo as oportunidades da pré-campanha. O objetivo é divulgar as ideias do pré-candidato e compor o seu perfil como adequado para a cidade neste momento. Mostrar seu dinamismo, sua ampla atuação de forma que quando começar a campanha ele será um candidato com relevância. Para isso, será preciso uma estratégia de pré-campanha definida e um plano de ações que vão desde encontros com moradores a postagens no Facebook, Twitter até vídeos no YouTube.
6. E da campanha?
Nesse momento, tudo o que você realizou na pré-campanha deve somar frutos para a campanha. A estratégia agora é eleitoral também. Os esforços se intensificam nas regiões onde o pré-candidato tem menor receptividade. A indicação é montar a equipe enxuta mas com as pessoas certas, leais, para que vença os desafios. Os candidatos a prefeito precisam organizar os candidatos a vereador da sua chapa. Colocar como coordenador alguém que tenha experiência e goste de gente. Não é fácil, mas é necessário. O candidato a prefeito vai precisar da divulgação de cada um deles. É a chamada capilarização de campanha. Aos candidatos a vereador, um conselho: fazer campanha como podem e não depender tanto do candidato a prefeito, mas ajudar na campanha, pois dependem disso.
7. O que é imprescindível para uma boa (honesta) campanha?
É bem simples. Ter uma diretriz geral que movimente sua atuação. Saber por que querem ganhar a eleição, o que querem fazer, ser eles mesmos – verdadeiros e não prometer o que não podem cumprir. No mais, trabalho, trabalho, trabalho!
Em 2016, com menos tempo para campanha e menos recursos os pré-candidatos precisam ser bem criativos
7 dicas profissionais de Edson Higo para os pré-candidatos bombarem nas mídias digitais:
- Defina as prioridades dos canais em primeiro lugar
- Comece com o Facebook e crie uma fanpage – é o recomendável porque permite ultrapassar 5000 curtidas
- Crie um site e um blog
- E depois insira vídeos no YouTube com links nos outros canais
- O mais importante é o planejamento – Os canais precisam ser alimentados com a regularidade que cada um demanda
- Cuide do Marketing de Conteúdo dos seus canais – Inbound Marketing -, elaborando postagens novas e relevantes para todos seus canais e prepare-se para responder eventuais cutucadas
Por fim, lembre-se de que na Internet tudo funciona à velocidade da luz!
A imagem de abertura do artigo faz referência ao Areópago, local aonde ocorreu o julgamento de ORESTES e a decisão pelo voto de Minerva.
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