Alice, o Chapeleiro Maluco e o storytelling, 150 anos depois.
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Alice, o Chapeleiro Maluco e o storytelling, 150 anos depois.

Alice, o Chapeleiro Maluco e o storytelling, 150 anos depois.

“Aonde fica a saída?”, Perguntou Alice ao gato que ria.

”Depende”, respondeu o gato.

”De quê?”, replicou Alice;

”Depende de para onde você quer ir…”

CARROLL, L., Alice no País das Maravilhas, 1865.

Queremos voltar no tempo! Se possível para o ano 1865, exatamente. Ano de nascimento do inesquecível clássico Alice no País das Maravilhas, que está completando 150 anos, este ano. A lembrança me deixou nostálgica, trouxe algumas recordações de infância e me levou para uma grande viagem pra perto de Alice…

Fiz uma análise do filme, um dos melhores exemplos de narrativa transmidiática que já foi alvo de inúmeros estudos e teses pelo mundo todo. Comigo não foi diferente. A pequena Alice, menina curiosa e cansada da monotonia do seu mundo, também me fisgou!

A historia, baseada em um sonho, é uma metáfora para uma jornada interior, em direção aos indomáveis desejos do subconsciente. A busca por significados profundos pode ter contribuído para tornar o enredo ainda mais cativante permitindo várias interpretações do livro.

A história de Alice

A obra é mais conhecida de Charles Lutwidge Dodson, publicada em 1865 sob o pseudônimo de Lewis Carrol,  é uma das obras mais célebres do gênero literário nonsense. Nasceu em 1862 , quando Carroll fazia um passeio de barco no Rio Tâmisa com sua amiga Alice Liddell, com 10 anos na época, onde contou a história que deu origem à atual. Falou sobre uma garota chamada Alice que entraria em um mundo fantástico após cair em uma toca de coelho. A Alice da vida real vibrou tanto com a história que pediu para Carroll escrever.

Ele atendeu ao pedido e, em 1864, apresenteou com um manuscrito chamado Alice’s Adventures Underground. Mais tarde, Carrol decidiu publicar o livro e mudou a versão original, aumentando a história. A tiragem inicial de 2.000 mil exemplares, publicada em 1865, foi removida das prateleiras, devido á reclamações do ilustrador John Tenniel sobre a qualidade da impressão, mas a segunda tiragem esgotou rapidamente, e a obra se tornou um grande sucesso no mundo todo traduzida para mais de 50 idiomas.

Curiosidade: A primeira impressão do livro, rejeitada,  foi leiloada por 1,5 milhão de dólares americanos.

O livro inspirou várias adaptações cinematográficas e televisivas. Porém os filmes originais e mais conhecidos mundialmente são Alice in Wonderland de 1951, feito em animação tradicional, e o de 2010 dirigido por Tim Burton com  Johnny Depp como o Chapeleiro Maluco, ambos da Walt Disney Animation Studios. 

Pesquisando percebi que existem, pelo menos, cerca de 30 adaptações diretas e completas do livro original. Escolhi o filme de Tim Burton para fazer uma análise da narrativa transmidiática utilizada para sua divulgação.

Sinopse do Filme

Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton, se desenrola 9 anos após a história original, com Alice já com 19 anos. O cenário é uma festa da nobreza em Oxford, onde vive. Descobre que está prestes a ser pedida em casamento e, desesperada, foge seguindo um coelho branco. Quando se dá conta já está no País das Maravilhas, um local que ela visitou quando tinha seis anos, mas não lembrava mais.

Sobre Transmídia Storytelling

Com a internet, estamos vivendo uma era de inteligência coletiva e a narrativa transmídia exemplifica muito bem esse processo.

Transmídia é um diálogo que convida o público a participar da narrativa, de alguma maneira.

O advento das novas mídias alterou a forma de produção e consumo de informação e com a transmídia é possível vivenciar uma experiência mais profunda e uma troca mais rica com a história. As informações que até então eram disponibilizadas apenas por uma mídia, nos últimos anos passaram a ter seu conteúdo distribuído entre diversos produtos midiáticos. Eu falei um pouco sobre isso no artigo Comunicação Convergente Multiplataforma.

Utilizando diferentes mídias, a história pode ser contada em cada uma das plataformas de uma forma inovadora, sem repetição de conteúdo, valorizando a experiência interativa e despertando grande interesse do público-alvo. De acordo com Henry Jenkins, em sua obra Cultura da Convergência “uma historia transmidiática desenrola-se através de múltiplas plataformas de mídia, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo”.

Recursos transmidiáticos criados para divulgação do filme

1. Press-kit

press kit do filme foi enviado para a imprensa com informações, imagens, notícias, sinopses e brindes com informações seguras, dados e datas, facilitando o trabalho dos jornalistas e blogueiros. Tinha o formato de um incrível livro personalizado contendo um livro menor, e ainda outro, escondendo um pen drive no formato de uma chave pequena com cenas especiais. Logo o press deixou de ser uma simples ferramenta de comunicação e tornou-se um objeto de desejo de todos os fãs do filme, diretores e atores. Por ser tão criativo, o kit ganhou grande espaço na mídia.

2. Flashmob | Tea party  

Como parte das estratégias criativas para a divulgação, a Disney realizou uma Feira Internacional de Moda, na Magic Marketplace, em Las Vegas, para mostrar as últimas tendências da moda e acessórios femininos. Foi organizado um flashmob diferente intitulado Tea Party para mostrar como o filme desejava influenciar a moda, em 2010.

3. Mídia Impressa

O jornal americano The L.A. Times estampou na primeira página um anúncio publicitário do filme. Na imagem, o personagem de Johnny Depp, o Chapeleiro Maluco, toma conta do espaço das notícias. De acordo com a jornalista Sharon Waxman, a Walt Disney Co. pagou o valor de U$ 700 mil para ter o anúncio estampado no veículo.

4. Mídia televisiva

A Disney reservou espaço para o trailler oficial do filme no evento esportivo Super Bowl – a final da liga de futebol americano (NFL). É um dos eventos esportivos de maior audiência nos Estados Unidos, e é assistido em todo o mundo. Empresários multimilionários pagaram, em média US$ 2,7, milhões por apenas 30 segundos no intervalo do evento.

5. Mídia sonora

A trilha sonora do filme – Almost Alice – contou com 16 faixas incluindo vários grandes nomes do pop rock mundial e outros artistas do cenário independente atual. A Buena Vista Records lançou o CD “Quase Alice” três dias antes do lançamento do filme.

6. Video Clip

O clipe de Tea Party mostra Kerli curtindo, obviamente, um chá, com direito à figurino ousado, cheio de plumas, listras, rendas, perucas, laços, espartilhos, enfim, uma miscelânea com vários estilos inspirados no filme.

7. Jóias

O filme inspirou uma coleção de anéis, feita em parceria com a H Stern. O briefing dizia: “quero algo surpreendente”. As rosas falantes que aparecem no filme fazem parte de um dos cinco anéis.

8. Mídia Digital

O perfil oficial do Twitter, @importantdate, registrou a marca de 12,7K seguidores, na data do lançamento (2010) com a divulgação de fotos, entrevistas e promoções exclusivas. A página oficial no Facebook, foi a primeira a divulgar os posters do filme e hoje conta com 1,3K de fãs, que têm acesso às informações, traillers, jogos e aplicativos como o do Chapeleiro Maluco. A revista Wired publicou um vídeo com o making of do filme.

9. Games

Uma narrativa transmidiática deve gerar portais de acesso entre os conteúdos dispostos nos seus diversos canais de distribuição. Jenkins (2009) exemplifica portais de acesso por meio da franquia Matrix, que deixava pistas no roteiro dos filmes, utilizadas para que se pudesse jogar o game. As partidas devem durar entre 10 e 12 horas.

Mais recursos

O clássico contou também com site oficial e mídia em outdoor somando 11 recursos transmidiáticos massivos on-line e off-line utilizados como estratégia para divulgação do filme e não da história. O buzz gerado pelas estratégias multiplataformas de divulgação foi tão grande que ele foi considerado sucesso de bilheteria antes mesmo de sua estreia.

Enfim, encerro este artigo reproduzindo mais uma afirmação do mestre da Comunicação Convergente, Henry Jenkins “Transmídia storytelling representa um processo onde os elementos que integram uma ficção se dispersam sistematicamente através de múltiplos canais com a finalidade de criar uma experiência de entretenimento unificada e coordenada. Cada meio traz uma contribuição única para o desenrolar da história”.

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