11 fev A web, nossa vida online e como os vídeos digitais estão transformando a comunicação
Entrevista: jornalista Paulo Silvestre
Por: Catarina Pierangeli
A internet está tão presente em nossas vidas que não nos lembramos mais como era antes dela existir. Em um futuro bem próximo a internet será como hoje é a eletricidade. O expert Joe Touch afirmou que “Nós não pensaremos mais em ‘ficar online’ ou ‘procurar pela internet’, simplesmente viveremos online”.
Somos sujeitos de um momento muito especial com mudanças e quebras de paradigmas na comunicação. Com a internet, pela primeira vez na história da humanidade qualquer um tem o poder de criar e publicar conteúdos com possibilidade real de atingir outras pessoas pelo MUNDO.
A bola da vez é a produção independente de vídeos digitais que está com tudo graças aos avanços da tecnologia que finalmente conseguiu chegar a um nível de desenvolvimento e barateamento que permite a democratização da comunicação. É um caminho sem volta. E é ótimo! Aliás, quem quer voltar?!?!
Tudo começou em 1994, com a liberação da Web comercial. Um verdadeiro divisor de águas
Quem conta essa história é o jornalista Paulo Silvestre, um apaixonado por mídia e tecnologia que está online desde 1987 e trabalha com mídias digitais desde 1995. Paulo participou da criação da FolhaWeb, que se transformou no Universo Online, e da AOL Brasil. Foi também editor de produtos digitais da revista Exame, gerente sênior de conteúdos didáticos digitais da Editora Saraiva, gerente de produtos digitais do Grupo Estado, editor de produtos digitais da Microsoft e gerente de e-commerce da Samsung.
Acompanhe a entrevista exclusiva que ele deu para a Coluna:
Em 1997, você estava no UOL fez uma matéria especial para Folha Multimídia intitulada “Som e vídeo fazem as pazes com a rede”. Você dizia que novas tecnologias prometiam mudar as condições do som e do vídeo na World Wide Web, tirando o estigma de incompatíveis com a Internet. Quase 20 anos depois, a tecnologia evoluiu e os vídeos estão “bombando” na internet. Você acertou na mosca! Como você avalia esse processo? É possível fazer uma projeção para os próximos 10 anos?
Hahaha… primeiro obrigado por essa viagem no Túnel do Tempo! Apenas 18 anos se passaram… Na reportagem, eu tentava descrever o conceito de streaming, que estava sendo lançado com o RealPlayer. Hoje é algo tão integrado à nossa vida, que nem pensamos que ele é o pilar fundamental de serviços como YouTube e Netflix.
Naquele tempo, com acesso à Internet feito ainda exclusivamente por conexões discadas, o streaming era quase mágica por permitir algum vídeo sob demanda, mesmo com baixíssima resolução. Mas hoje ele ainda é fundamental, para que assistamos “House of Cards” com qualidade Ultra HD nas nossas smart TVs ou nos nossos celulares, pois a quantidade de dados trafegados cresceu brutalmente. Ou seja, as conexões domésticas saltaram de 56 kbps para 100 Mbps, mas o aumento na qualidade da imagem consumiu toda essa largura de banda adicional.
Mas a diferença mais impactante daquela para essa época é que hoje qualquer criança é capaz de gerar um vídeo e publicá-lo para o mundo. Basta usar seu celular, capaz inclusive de gravar em Full HD, e mandar para o YouTube. E muita gente já ficou rica com essa “brincadeira”.
Essa mudança comportamental é a coisa mais incrível de todas! A tecnologia hoje ocupa o seu lugar. É uma ferramenta tão integrada ao nosso cotidiano que fica quase transparente. Portanto, não se trata de uma revolução tecnológica, e sim de uma incrível revolução cultural, em que todos ganharam voz (e imagem).
E isso é bom demais, pois todos nós temos algo a dizer! Interessará a todo mundo? Claro que não! Nunca! Nem a Kéfera agrada todo mundo. Mas ela agrada a pelo menos os 7,5 milhões de inscritos que tem no YouTube. Isso já é muito mais que bom demais! Ah, mas e se só a minha mãe vir meu vídeo no YouTube? Tudo bem: isso também já é bom demais!
Onde estaremos daqui a dez anos? Boa pergunta! Mas o que eu vejo é o fortalecimento contínuo dos serviços de vídeo sob demanda, e certamente novos players surgirão. Netflix e sua turma ameaçarão cada vez as TVs tradicionais (abertas ou por assinatura), não apenas na base de espectadores e na publicidade, mas também desmontando cada vez mais o conceito de grade de programação, base do modelo de negócios dessas empresas, mas que já não mais funciona com o público, que quer ver o que quiser, na hora que quiser, onde estiver e, de preferência, sem anúncios. Isso tem muito valor! E as pessoas estão pagando por isso.
Hoje os profissionais podem produzir seus próprios vídeos e postar em uma plataforma digital para divulgar sua imagem, produtos e serviços. É fácil, simples e barato. Você acha que dá resultado em termos de geração de negócios?
Claro que sim! Mas é importante que fique claro que isso não é magia. Criar conteúdo e publicá-lo não é nenhuma garantia de sucesso. Mas o fato de que qualquer um hoje pode publicar vídeos com custos desprezíveis já é algo incrível e muito bem-vindo.
Como qualquer atividade de marketing, promover um produto, uma ideia ou uma pessoa nos meios digitais envolve diferentes técnicas. Por mais que esse meio seja muito mais permissivo do ponto de vista de qualidade de imagem, por exemplo, o vídeo precisa ter alguns cuidados básicos de gravação, como enquadramento, iluminação e áudio. Novamente: dá para fazer isso com recursos mínimos? Dá! Mas não quer dizer que um vídeo em que não se veja direito a imagem ou se escute direito o que a pessoa está falando vá dar certo. Provavelmente dará errado, pois simplesmente não está conseguindo passar a ideia.
A boa notícia é que, com alguns cuidados mínimos, que não exigem grandes investimentos, dá para se produzir um material de alta qualidade. E sua promoção também não é complicada. Então, respondendo sua pergunta, sim, dá para gerar negócios com isso.
Seus vídeos no canal “O Macaco Elétrico” já estão na 11ª. edição. Dá para avaliar a evolução em termos de aperfeiçoamento? E o feedback do público?
Comecei a fazer os vídeos há dois meses, por insistência de alguns amigos. Antes disso, nunca tinha feito um vídeo na vida com essas características. Portanto, nos primeiros vídeos, apesar de dominar a linguagem e o conteúdo, não tinha experiência técnica. Mas o aprendizado foi rápido, inclusive com o apoio de amigos experientes nesse canal. Muita coisa pode ser aprendida com tutoriais no próprio YouTube, mas alguns segredos são mais difíceis de se descobrir sem ajuda. Diria que, após um mês, já tinha atingido um padrão técnico bastante interessante. Mas o aprendizado é contínuo, não apenas nos vídeos, mas também no canal.
Ainda estou na fase de construção de audiência, mas tenho recebido apoio de diferentes pessoas, inclusive de desconhecidos, seja no próprio YouTube, seja em outros canais de promoção. É muito importante ter definido qual é seu público e qual é o tema do seu canal, para selecionar os temas e usar a linguagem adequada.
Dicas
Você pensa em começar a produzir seus próprios vídeos profissionais? Fique ligado na qualidade das imagens, no público-alvo, conteúdo e veiculação:
- Não dá pra agradar todo mundo. Nem tente fazer isso! Defina para quem você quer falar. Descubra quem são essas pessoas, do que gostam, como falam, como se posicionam. Isso é fundamental para definir a linguagem e os assuntos abordados no canal. Claro que, no caso de uma marca já existente, o público-alvo já deve ser conhecido. Mas, mesmo assim, é preciso estudar suas características para formatar o canal.
- Produção x audiência x regularidade – É preciso que fique claro que, uma vez colocado no ar, o canal precisa ser alimentado. A consistência e regularidade são importantes para alavancar a audiência e a fidelidade. Não precisa produzir um vídeo por dia, mas um por semana seria interessante.
- Abuse dos recursos – Use todos os recursos disponíveis na própria plataforma. Dá trabalho, eu sei, mas o esforço recompensa. E aqui entram mais alguns segredinhos:
- Vamos falar sobre os aspectos técnicos, como a escolha da câmera, microfone, iluminação… Claro que recursos profissionais trazem resultados melhores, mas dá para fazer muito gastando pouco. A câmera pode ser o próprio celular, ou uma câmera fotográfica digital. O celular gravando sobre a mesa já dá uma qualidade de áudio decente.
- Também existe a questão da iluminação, que o iniciante vai acabar aprendendo com a experimentação. Dá para conseguir um bom resultado filmando diante de um janelão em um dia de sol. Mas tem que ser de frente para a janela, para evitar sombras. Mas também é possível construir um softbox caseiro, que dá também ótimos resultados. No próprio YouTube, é possível encontrar muitos tutoriais que explicam como fazer isso.
- Chega a hora da edição! O Windows e o MacOS oferecem ferramentas pré-instaladas (Movie Maker e iMovie, respectivamente). Claro que não dá para fazer maravilhas com eles, mas servem para edições básicas. Depois podem pensar em partir para programas mais profissionais. Existem até algumas versões gratuitas.
4. Ah.. e fechamos com o (bom) conteúdo! Mas, claro que nada do que foi dito antes dará resultado se o conteúdo não for bom. E por “bom” não me refiro a “sofisticado”, e sim algo que faça sentido e acrescente ao público. Por isso, comecei a resposta justamente dizendo que a primeiríssima coisa é decidir quem é o público.
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